17/11/2017

Petição pela atribuição ao cagarro (Calonectris borealis) do estatuto simbólico de Ave Regional dos Açores




PETIÇÃO PELA ATRIBUIÇÃO AO CAGARRO (CALONECTRIS BOREALIS) DO ESTATUTO SIMBÓLICO DE AVE REGIONAL DOS AÇORES

O cagarro ou pardela-de-bico-amarelo-atlântica (Calonectris borealis) é uma das aves mais emblemáticas dos Açores, presente em todas as ilhas do arquipélago.

É a ave marinha mais abundante nas nossas ilhas, sendo o nosso arquipélago o principal e mais importante baluarte de nidificação desta espécie. Nas nossas ilhas concentra-se cerca do 75% do total da sua população mundial, estando localizadas as restantes colónias no arquipélago da Madeira, nas ilhas Canárias e no litoral continental de Portugal.

O cagarro é uma ave que desde sempre se encontra fortemente ligada ao imaginário cultural dos açorianos. Ela simboliza melhor do que qualquer outra ave a simbiose entre o meio marinho e o meio terrestre que caracteriza os Açores e as suas gentes. Durante todo o período de nidificação das aves, que vai de abril a novembro, o canto singelo e misterioso dos cagarros enche as noites da primavera e do verão por todo o litoral dos Açores. Para os pescadores, que seguem no mar ao longo do ano os seus voos e as suas pescarias, os cagarros servem de ajuda para localizar os cardumes e aumentar o rendimento das suas pescas.

Os cagarros são também os protagonistas da campanha de conservação da natureza com mais sucesso e que mais pessoas mobiliza em todos os Açores. Desde o ano de 1995 realiza-se por toda a região a Campanha SOS Cagarro, destinada ao salvamento dos cagarros juvenis que no seu primeiro voo caem em terra, desorientados por causa das luzes artificiais. Assim, todos os anos, nos meses de outubro e novembro, a Campanha SOS Cagarro mobiliza o interesse e o entusiasmo de milhares de açorianos. Desde os seus inícios há cada vez mais pessoas a participar. Nos últimos anos foi registada a participação de até 4.600 voluntários e de cerca de 315 entidades em toda a região. O seu empenho e esforço servem para resgatar anualmente um elevado número de aves, por vezes superior a 6.000 exemplares.

Tem vindo a crescer, ao mesmo tempo, uma grande sensibilidade e preocupação, por parte de diferentes entidades sociais, pela conservação e futuro desta ave. Desta forma, no ano de 2014, diversas associações ambientalistas e ecologistas assinaram um “Manifesto em defesa do cagarro” no qual era já reivindicada “a declaração do cagarro como Ave Regional, de especial interesse e protecção na Região Autónoma dos Açores”. No referido manifesto era argumentado que “ainda que nos Açores existam outras aves que seriam candidatas a este título, esta espécie é a mais abundante em todas as ilhas, a mais próxima das populações e aquela cuja protecção melhor serviria para a protecção do conjunto dos ecossistemas litorais de todo o arquipélago e de outras aves marinhas ameaçadas”.

Na altura do lançamento do manifesto, as entidades governamentais mostraram simpatia pelo proposto. Com efeito, em carta da Direção Regional dos Assuntos do Mar aos promotores do manifesto, foi-lhes comunicado que “a proposta de criação da figura de “ave de interesse regional” encontra-se sob apreciação das Direções Regionais dos Assuntos do Mar e do Ambiente e da Universidade dos Açores”. Apesar disto, não foram conhecidos, até agora, mais desenvolvimentos.

Cada vez é mais evidente, aquém e além-fronteiras, que a harmonia e convivência entre o homem e a natureza é o único caminho para nos garantir um futuro próspero e sustentável, nomeadamente num meio insular tão pequeno como o açoriano, onde essa relação entre homem e natureza é tão estreita. Mas é também evidente que a conservação da natureza passa, antes de mais, por inculcar na consciência colectiva da população o respeito pelo meio natural e por valorizar socialmente todos elementos que constituem a fauna e a flora nativas.

Sendo o cagarro, como foi dito, um elemento emblemático da natureza na nossa região, a sua valorização social será também a valorização do conjunto da natureza açoriana. A sua protecção será também a protecção do conjunto dos ecossistemas marinhos das nossas ilhas. E o respeito por esta espécie será também, em parte, o respeito pela geografia, pela história e pelo modo de vida do povo açoriano. Assim, a elevação do cagarro a ícone oficial dos Açores, ao mesmo nível de outros símbolos da região, será a melhor forma de elevar e materializar os valores antes citados a um novo e mais avançado patamar, ficando para sempre ligados, de forma espontânea, a um sentimento de orgulho entre todos os açorianos.

Mas se os ícones nos servem para dar uma nova dimensão à imagem que temos de nós próprios e do nosso modo de vida, eles servem-nos igualmente para projectar uma determinada imagem da nossa terra no exterior e entre as pessoas que nos visitam. Assim, com a associação dum símbolo natural como o cagarro aos elementos de identidade próprios do povo açoriano, o nosso arquipélago ganharia sem dúvida em estima, simpatia e prestígio entre todos os povos desenvolvidos onde a natureza é igualmente cada vez mais valorizada.

A atribuição ao cagarro do título simbólico de Ave Regional dos Açores, podendo trazer tantas vantagens, não comportaria na realidade nenhuma mudança legal no seu actual estatuto de protecção, nem afectaria à importância que é dada a outras aves igualmente emblemáticas da região, nem obrigaria à realização de quaisquer acções especiais por parte das entidades governamentais, para além daquelas que já são feitas. Com esta declaração trata-se simplesmente de outorgar uma nova dignidade a esta ave e, com ela, a todo o conjunto da natureza e do povo açoriano.

Por todo o anteriormente exposto, solicita-se que a região institua o cagarro ou pardela-de-bico-amarelo-atlântica (Calonectris borealis) como Ave Regional dos Açores.


Assine a petição aqui: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT87499






08/11/2017

Comunicado: Associações ecologistas açorianas e mais de 350 pessoas manifestam-se pela defesa das aves açorianas e contra a sua caça


Associações ecologistas açorianas e mais de 350 pessoas manifestam-se pela defesa das aves açorianas e contra a sua caça

Várias associações e colectivos ecologistas açorianos manifestam-se pela defesa das aves nativas dos Açores e subscreveram o “Manifesto pela defesa das aves açorianas e contra a sua caça” (http://avifaunadosacores.blogspot.pt/2017/10/manifesto-pela-defesa-das-aves.html).

Este Manifesto conta com as assinaturas dos Amigos dos Açores, da Quercus/São Miguel, do Coletivo Açoriano de Ecologia Social, da Avifauna dos Açores, e de mais de 350 pessoas individuais que já assinaram uma petição de apoio ao Manifesto disponível na plataforma change.org (https://www.change.org/p/assembleia-legislativa-da-regi%C3%A3o-aut%C3%B3noma-dos-a%C3%A7ores-manifesto-pela-defesa-das-aves-a%C3%A7orianas-e-contra-a-sua-ca%C3%A7a).

O Manifesto critica e pede a retirada da actual Proposta de Decreto Legislativo Regional sobre o exercício da caça nos Açores, apresentada recentemente pelo Governo, por considerar que esta proposta legislativa não está apoiada num grau suficiente de conhecimento científico, por não respeitar o cumprimento dos tratados internacionais e por não proteger de forma satisfatória nem adequada a frágil natureza dos Açores.

Indo ao encontro das mesmas reivindicações apresentadas também num recente comunicado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), os subscritores do Manifesto consideram que se devem excluir definitivamente da lista de espécies cinegéticas as aves nativas que apresentam um estado de conservação desfavorável, como a narceja ou a galinhola, as aves migradoras que utilizam os nossos escassos e valiosos habitats aquáticos, como o pato-real, a marrequinha e a piadeira, e as aves de origem exótica, como a perdiz-vermelha e a perdiz-cinzenta, que mesmo por razões legais nunca deveriam ser introduzidas na nossa região.

O Manifesto alerta também para o facto de quatro aves migradoras protegidas estarem fortemente expostas à caça pelo facto de serem praticamente impossíveis de diferenciar de outras quatro incluídas actualmente na lista de espécies cinegéticas. Também se pede a proibição da utilização na caça de aves de presa e do furão, uma espécie exótica invasora nos Açores.

Os assinantes do Manifesto salientam que a caça de aves açorianas, praticada por uma minoria de caçadores, é altamente subsidiada com dinheiro, equipamentos e funcionários públicos, sendo que o seu escasso benefício contrasta claramente com o impacto negativo que exerce sobre outras actividades económicas mais importantes para a região, como é o caso do turismo. Um impacto que é ainda maior quando a caça é praticada na proximidade dos trilhos pedestres ou nos meses do verão, quando a presença de turistas é maior.

Face às recentes declarações da Directora Regional dos Recursos Florestais tratando de desvalorizar publicamente o conteúdo do comunicado da SPEA, lamentamos a insistência do Governo Regional em ignorar o conhecimento científico existente e em continuar a defender opções ambientais caducas e erradas.

Consideramos muito alarmante que o Governo considere, por exemplo, que os apenas 6-10 casais de narceja existentes na ilha de São Miguel possam ser considerados como uma população estável e vistos como um recurso cinegético sustentável.

Igualmente alarmante é considerar que não há possibilidades de confusão e de caça de espécies protegidas quando sabemos, por exemplo, que 8% das narcejas caçadas no Pico e até 56% das caçadas em São Miguel são na realidade narcejas-americanas, existindo portanto comprovadamente uma confusão contínua e flagrante entre espécies protegidas e cinegéticas.

Também é muito preocupante a insistência em não considerar o furão como uma espécie invasora, as aves de presa como espécies exóticas ou confundir a situação e o estado de conservação das espécies nativas no meio continental europeu e no meio insular açoriano.

Não temos dúvidas de que, com a definitiva proibição da caça das aves nativas açorianas, uma actividade muito minoritária e com um alto impacto sobre o ambiente e sobre outros sectores económicos como o turismo, a região seria grandemente beneficiada.